Quem eram os Nicolaítas?
Os nicolaítas eram agentes propagadores da imoralidade e da idolatria entre os primeiros cristãos.
Quem eram os Nicolaítas? Esse povo é mencionado na primeira carta de Cristo direcionada à igreja de Éfeso, para qual o Senhor declara: “Tens, porém, isto: que odeias as obras do nicolaítas, as quais eu também odeio” (Ap 2.6). Como podemos entender, diante da contundência destas palavras, é importante saber quem eram os nicolaítas e quais eram as suas obras. Vejamos: Alguns estudiosos entendem que se tratava dos discípulos de Nicolau de Antioquia. Nicolau pregava a libertinagem cristã e ignorava o corpo físico como o templo do Espírito, promovendo, assim, a prática de imoralidade sexual entre os cristãos. Ainda podemos acrescentar que tal ensino está correlacionado com a mesma imoralidade sexual pregada por Balaão, que encorajou as mulheres moabitas a seduzir os homens de Israel, conforme verificamos em Apocalipse 2.14,15, na terceira carta direcionada à igreja de Pérgamo: “Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem. Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio”. Desta forma, vemos claramente a associação dos nicolaítas eram, muito provavelmente, agentes propagadores da imoralidade e da idolatria entre os primeiros cristãos, práticas expressamente reprovadas pela Bíblia: “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus” (1Co 6.9,10 ).
Apocalipse 2:6: "Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio." Carta à Igreja de Esmirna.
Apocalipse 2:15-16: "Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas. Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca." Carta à Igreja de Pérgamo.
Quando nosso Senhor Jesus Cristo caminhou entre os homens, ensinou Seus discípulos a ter cuidado com o "fermento dos fariseus", a quem denunciou como hipócritas. Sob a mesma designação, incluiu também o sumo sacerdote, os oficiais do templo e junto os mestres (escribas ou professores) das sinagogas.
Jesus declarou que estes tinham corrompido a verdade de Deus, com as doutrinas e ensinos dos homens. A verdade, tal como originalmente lhes tinha sido dada, não estava mais com eles. Aquilo que eles chamavam a verdade de Deus, já não era tal e lhes convertia em cegos e líderes de cegos, fazendo com que seus seguidores tropeçassem e caíssem.
Portanto, como uma advertência a todos aqueles que se uniam a Ele, o Senhor disse que aqueles homens não espirituais, que faziam longas orações simplesmente para colocar-se em evidência, dando espetáculo público, embora parecessem ter um conteúdo de humildade, queriam tão somente ser vistos pelos outros.
O que realmente aqueles homens desejavam era ocupar os assentos mais importantes em todas as festas. Queriam as saudações que recebiam nos mercados, dos homens verdadeiramente humildes e sinceros, mas que pretendiam ser aceitos por seus superiores e lhes dirigiam a palavra, chamando-os: "rabino", "mestre", "meu professor".
Nosso Senhor ordenou, porém:
Mateus 23
8 Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos.
9 A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus.
10 Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo.
11 Mas o maior dentre vós será vosso servo.
Eis aí um duplo mandamento com um duplo propósito:
Não permitam aos homens, que são irmãos em Cristo e quem compõem a Igreja de Deus, que, por nenhum motivo, chamem-lhe professor, pois Um só é o Professor.
Não permitam nenhum de vós ser possuído com o espírito carnal de querer que aqueles homens, que são seus irmãos na Igreja de Deus, chamem-lhe professor.
Jesus acrescentou ainda que, os líderes religiosos de Seu tempo, tinham o desejo carnal de querer ocupar o posto mais alto perante os olhos dos que formam o povo de Deus. A esses líderes, acusou de extorsão e de abusos, e também lhes denunciou como "devoradores de lares e de viúvas". Cristo lhes repreendeu por ser hipócritas, que aspiravam chegar a ser autoridade nas congregações do Deus altíssimo.
Idênticas condições, tal como essas que Jesus descreveu, existem hoje em dia nas diversas Igrejas. Embora seja correto que há necessidade de ordem no trabalho para Deus e que Ele aprovou que reconheçamos e consideremos aqueles que nos admoestam, pregam e ensinam, é preciso distinguir bem entre os que são líderes para servir e os que, em vez disso, querem governar.
I Tessalonicenses 5
12 Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam;
13 e que os tenhais com amor em máxima consideração, por causa do trabalho que realizam.
I Timóteo 5
17 Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina. (Almeida Revista e Corrigida)
Por que devemos valorizar os que pregam e ensinam, guiando-nos e conduzindo-nos no Senhor, em lugar de nos governar? Porque todos aqueles que estão sobre nós no Senhor são nossos pastores. E pastores, como todos sabem, devem guiar e conduzir, não dominar sobre o rebanho
.
Governo é a administração de um sistema humano por humanos. Nós, a igreja, temos um governante que está nos céus e é Jesus, que em Seus mandamentos nos impõe as regras que todos devemos seguir e que nos conduz, como o faz o Bom Pastor.
Não sei se você teria visto alguma vez pastores saindo com suas ovelhas na vida real... Cedo pela manhã, ao despertar a alvorada, os pastores começam a preparar suas ovelhas para o dia. Com seus alforjes e rodeados por seus cães, os pastores abrem os currais para que estas saiam. Todas se reúnem em círculos ao redor dos pastores afastadas dos cães em espera do sinal de marcha. Esta se dá quando o pastor, apoiado em seu comprido cajado, começa a caminhar pelas ruas do vilarejo. Todas as ovelhas lhe seguem atrás como um rio de branca lã que sulca pelas esquinas e encruzilhadas do povoado que ainda dorme.
O lento caminhar do pastor com suas ovelhas lhes leva por fim aos subúrbios do vilarejo. Vigiadas pelos cães, as ovelhas, começam a espalhar-se um pouco mais, mas sempre seguindo ao pastor. Até que por fim chegam à verde pradaria.
Nesse momento, as ovelhas ultrapassam ao pastor e estas caminham para o lugar onde encontram seu melhor pasto.
Agora o pastor vai atrás, vigilante para não permitir que nenhuma se desencaminhe. O pastor, dirigindo-as com a ajuda dos cães, deixa-as pastar com prazer. A volta para casa geralmente se faz ao reverso. As ovelhas conhecem o caminho e elas vão adiante, com o pastor atrás cuidando para que nenhuma se extravie.
Esta comparação da igreja com um rebanho é uma bela analogia que encontramos na Bíblia! Não a do domador de circo encerrado com suas feras em uma jaula, às quais domina, ameaça e faz obedecer.
I Pedro 5
1 Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada:
2 pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade;
3 nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho.
4 Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória.
5 Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça.
6 Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte.
Os “professores cegos” dirão, mas não farão. O presbítero ungido de Deus, dirá e fará, e assim será um exemplo para o rebanho, a quem o povo amará e lhe terá em alta estima, por sua obra e por que em seu coração nunca desejará ensenhorear-se sobre a herança de seu Mestre. É esta a aspiração da parte de homens que se dizem líderes da igreja, converter-se em senhores da herança de Deus e é isto exatamente o que Ele odeia nos "pastores nicolaítas".
Faz algum tempo, impressionou-me um artigo que li a respeito dos Nicolaítas mencionados em Apocalipse 2:6 e 15-16, que citamos na introdução deste artigo. Embora haja pouca informação disponível sobre eles, a doutrina dos Nicolaítas não é mais que aquilo que a palavra "nicolaíta" significa.
No livro do Apocalipse, Jesus Cristo recrimina o comportamento e a doutrina dos tais nicolaítas, na descrição da condição espiritual das igrejas de Éfeso e Esmirna. O Senhor exige arrependimento por parte daqueles que mantêm e praticam essas coisas e até ameaça, com castigos drásticos, se não Lhe obedecerem:
Apocalipse 2
16 Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca.
Esse artigo a que me referi, falando da etimologia da palavra "nicolaítas", dizia que é composta por três palavras gregas. A primeira é nikos. Essa palavra significa conquista, vitória, triunfo, os conquistados e, por extensão, qualquer domínio sobre o vencido. Há palavras em que isto fica bem claro, como Nicópolis, que significa “cidade conquistada” (polis = cidade). Outra seria “andrônico”, em que andro significa homem, e, portanto, quer dizer “homem de conquista”.
O segundo termo usado na formação da palavra "nicolaítas" é o vocábulo laos, cujo significado é “povo”. O nome Nicolau, por exemplo, significa “vitorioso sobre o povo”. A palavra “leigo” também vem do termo grego laos.
A terceira palavra que entra na construção do "nicolaítas", é ton, em que a letra ômega por contração se converte em um “a”, que é o genitivo plural do artigo “o”.
Assim temos: nikos (que é “o domínio sobre o vencido”) + laos (“o povo” ou “leigos”) + ton (que nos indica a relação que existe entre as duas palavras) = nicolaítas (“aqueles que dominam sobre o povo, ou sobre os leigos”).
Utilizando termos eclesiásticos, uma definição mais ampla identificaria os nicolaítas como “os oficiais da igreja (bispos, prelados, pastores, sacerdotes, ministros, etc) que conquistaram ou impuseram domínio sobre o povo leigo”. Em outras palavras, nicolaítas são aqueles que mandam nos membros da igreja, como se estes fossem sua própria conquista. E isto é exatamente o que Deus odeia!
Encontramos evidências disto em qualquer dicionário ou livro que fale de hierarquia eclesiástica. De fato, “hierarquia” implica poder e domínio. Maior evidência, encontramos na religião católica, quando esta, no concílio de Trento, declarou: “Se alguém disser que na Igreja Católica não exista uma hierarquia estabelecida por regulamento divino, consistindo esta de bispos, presbíteros e ministros, seja anátema.”
O modelo é seguido de muito perto pelo protestantismo. Qual é o significado de "episcopal"? O dicionário define o termo como poder de governo que pertence ou é exercido por bispos e prelados. Governo da igreja por meio de bispos. Assim, nas igrejas, quando seus líderes são colocados em situação de superioridade administrativa ou organizacional, os membros são automaticamente classificados como inferiores!
Percebe, agora, irmão, de que maneira, sem que nos déssemos conta, desviamo-nos daquilo que Deus gosta e adotamos como prática aquilo que Ele odeia? No momento em que estabelecemos distinção entre ministros e leigos, líderes e liderados, pastores, oficiais da igreja e membros, automaticamente estamos estabelecendo diferenças e nessas diferenças uns estarão situados em patamares superiores e outros estarão nos inferiores. Haverá membros superiores e membros inferiores. Acaso foi isso o que Cristo pregou?
Entende agora, irmão, de onde vem a doutrina dos nicolaítas, à qual Deus tanto odeia? Ainda que já existam exceções em congregações isoladas, que se libertaram do domínio de estruturas opressoras, o desejo de assenhorear-se do rebanho do Senhor pode estar escondido e pronto para brotar no coração de líderes das novas comunidades independentes, que Deus está suscitando. Por isso, fiquemos atentos, como ovelhas de Cristo só devemos submissão a Ele, nosso Supremo pastor, que não poupou Sua própria vida para salvar-nos. Entre nós, não pode haver mais líderes, autoridades, maiorais, mas apenas SERVOS.
Mateus 20
25 Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles.
26 Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva;
27 e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo;
28 tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.
Eloy Garcia Ruela, tradução com adaptações de Robson Ramos.