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O que é ´coping´?
2009
ellen@medaumaideia.com.br
Doutorada em Psicologia e psicoterapeuta
Lutar, competir com sucesso ou em igualdade de condições: esta é a tradução literal do verbo inglês “to cope”, cujo significado também pode ser descrito como a ação de “lidar adequadamente com uma situação”, superando as dificuldades ou limites que essa situação apresenta.
Em Psicologia, mais precisamente na Psiconeuroimunologia – campo científico interdisciplinar que estuda o ser humano como unidade indissolúvel de corpo e mente –, o coping é pesquisado, sobretudo, na relação com o estresse, sendo definido como “tentativa ou empenho para lidar com exigências externas (do ambiente) ou internas (do próprio sujeito) percebidas como sobrecarregando ou excedendo os recursos da pessoa.”(Folkman e Lazarus)
Acontecimentos estressantes acontecem o tempo todo em nossas vidas: são pequenas contrariedades cotidianas, como a longa fila no banco, o fluxo de transito interrompido perto de casa, a nota baixa do filho na escola etc. Também estressantes são acontecimentos positivos, como o encontro, na noite de carnaval, de um parceiro amoroso, a notícia da aprovação de seu filho no vestibular, uma relação sexual de entrega intensa e ardente, um elogio inesperado do companheiro de trabalho.
Esses eventos estressantes suscitam um coping.
Não há uma maneira padrão e coletiva de “cope”. Os estudos apontam duas categorias de estratégias de coping básicas: as voltadas para a resolução do problema e as orientadas para a regulação da emoção.
Os moradores de um edifício que desabou – ou uma coletividade atacada por armas militares ou assaltantes – vivem um estresse traumático. Nele se inscrevem as três características básicas do nível mais grave de acontecimento estressante: é incontrolável, imprevisível e ambíguo. As estratégias de coping para lidar com esse estresse traumático variam de indivíduo para indivíduo, mas é possível identificar os padrões mencionados. Assim, por exemplo, uma mulher diz que não lhe é suficiente chorar a perda de seus bens, ela precisa colocar todo seu esforço para obter na justiça a condenação do responsável pela construção do edifício (resolução do problema). Uma outra estratégia, voltada para a mudança da reação emocional, é a do pai que tenta cuidar mais da filha que sobreviveu à morte do irmão mais velho durante um assalto – ou usa a revolta, muitas vezes apenas debilitante, para se engajar em um movimento coletivo de protesto contra a violência. Ele procura outra emoção diferente da perda, sem negá-la, mas superando-a pela mudança emocional e pela ação.
Um outro modo de analisar o coping é pela categoria de passivo ou ativo.
O coping passivo é o que envolve a “evitação” do problema ou a redução da tensão por ele provocada. Um exemplo é o consumo intenso do álcool ou de comida para reduzir a ansiedade diante do acontecimento estressante. O coping ativo é o que compreende as tentativas para lidar diretamente com o evento gerador de estresse. No caso do desabamento do edifício, acontece quando uma pessoa organiza uma cooperativa para distribuição de alimentos e roupas para os moradores desabrigados; ou procura se unir a outras e mover uma ação reparadora.
Não proponho aqui estabelecer regras de comportamento ou uma tábua de valores (isso é bom, ou certo ou errado). Tentei apenas esclarecer a existência de reações emocionais e comportamentais que constituem estratégias para lidar com os problemas e os fatores de estresse presentes na relação do indivíduo com o mundo – quer no nível da vida cotidiana, no plano das tragédias imprevisíveis, ou de doenças, perdas e crises/mudanças graves. Na medida em que a vida contemporânea se caracteriza cada vez mais como instável e exige mais recursos pessoais para lidar com as mudanças e imprevisibilidades, é natural que a ciência médica e psicológica se volte para a pesquisa dos modos de coping. Médicos e psicólogos se ocupam da análise da eficácia dos modos de coping e procuram terapias que facilitem o desenvolvimento de variedades decoping que se constituam como recursos valiosos para indivíduos e grupos.
http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?codigo=AOP0216#.V4-iWjxmsQo.facebook
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