"Testemunho Flaviano", do escritor judeu do século I, Flávio Josefo, seguindo a posição dominante entre os historiadores e estudiosos bíblicos de que parte do relato é autêntica, parcialmente a referência a crucificação, e seu retrato de Jesus como "homem sábio" e "realizador de feitos extraordinários".
No entanto, toda a vez que eu exponho esse ponto de vista, a réplica é imediata: "Josefo não era fariseu?
Então, como ele poderia escrever algo bom sobre Jesus?".
A questão da afiliação sectária de Josefo é complexa. Mas, por hora, acho mais interessante analisar o relacionamento entre os fariseus e Jesus de Nazaré.
A opinião popular, largamente difundida, é de que os fariseus eram um bando de hipócritas e falsos que perseguiam Jesus, e eventualmente conseguiram mata-lo.
Mas isso é verdade?
1) Jesus, os cristãos e os fariseus no Novo Testamento
A principal fonte antiga para a controvérsia de Jesus e seus discípulos com os fariseus é o Novo Testamento. Contudo, uma leitura atenta ao texto bíblico junto com a evidência de outras fontes mostra também muitas concordâncias. Os fariseus e os primeiros cristãos protagonizaram uma relação complexa.
É certo que os evangelhos retratam Jesus criticando repetidamente os fariseus; que Saulo (um fariseu) perseguiu os cristãos. Contudo, Nicodemos e Jose de Arimatéia são apresentados como fariseus.
As crenças dos cristãos, em anjos, ressurreição, vida após a morte os aproximavam muito mais desse partido, do que de qualquer outro grupo judaico de então.
Alguns fariseus avisaram Jesus que Herodes Antipas queria mata-lo (Lucas 13: 31 - 35). Lucas também recorda pelo menos três ocasiões em que Jesus foi convidado a almoçar em casas de fariseus (Lucas 7: 36; 11: 37 e 14: 1) .
Na Igreja de Jerusalém existiam alguns fariseus "que haviam crido" (Atos 15: 5) e estavam, provavelmente, associados ao partido judaizante, ou os da circuncisão (Atos 15: 1 ; Gálatas 2) que eram numerosos o suficiente para se fazer ouvir.
Pedem explicações de Pedro por ele ter batizado o gentio Cornélio (Atos 9), e protagonizam a controvérsia com Paulo que parece ter sido a maior do período (Atos 15), visto que entendiam que os discípulos gentios deveriam se circuncidar (Gálatas 5: 2 - 3), sendo necessário a intervenção de Pedro, Tiago e os demais apóstolos para resolve-la. A decisão tomada (Gálatas 2: 1 - 9; Atos 15: 22 - 31), enquanto recomendava, para os cristãos gentios, abstenção das "coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição" (Atos 15: 29) e o "cuidado constante dos pobres" (Gl 2: 10), não isentou os crentes judeus de continuar observando a lei e os costumes ancestrais.
Mesmo depois do Concílio, pelos menos alguns crentes judeus continuaram insistindo na necessidade da circuncisão e obediência a lei mosaica por parte dos gentios, o que levou Paulo a escrever Gálatas. E certo também que o fiador do acordo firmado no Concílio - Tiago, irmão de Jesus -, reconhecendo o status diferenciado da missão gentia, continuou conduzindo a Igreja de Jerusalém de forma alinhada com os costumes e leis judaicas (Atos 23: 18 - 25).
Mesmo assim, Atos nos diz que, quando ouvido pelo Sinédrio em Jerusalém, Paulo não se sentiu inibido em dizer "Sou fariseu, filho de fariseus, e por causa da ressurreição dos mortos estou sendo julgado". A simples menção de "ressurreição dos mortos", um ponto de profunda controvérsia entre fariseus e saduceus, levou o Sinédrio a se dividir. Se mesmo Paulo, pivô da controvérsia sobre a lei e os gentios, pode ser "adotado" pelos líderes fariseus, os seus oponentes judaizantes dentro do movimento de Jesus deveriam se sentir "em casa".
Prof. David Flusser (1917 - 2000), da Universidade Hebraica, aprofunda essa constatação:
"Não seria incorreto descrever Jesus como um fariseu, num sentido mais amplo. Todavia, ainda que sua crítica deles não fosse tão hostil quanto a dos essênios (...) Jesus os considerava forâneos e não se identificava com eles.(...). Temos ainda que analisar a tensão inevitável entre o Jesus carismático e o judaísmo institucional. Tampouco ousemos nos esquecer que o elemento revolucionário em sua pregação aumentou a tensão. Não obstante devemos ter em mente que esta tensão nunca implicou em negação, e as concepções de Jesus e dos fariseus não eram opostas, nem tampouco se degeneraram em inimizade (...) é obvio que havia entre os fariseus algumas pessoas de mente tacanha (...) que suspeitavam desse fazedor de milagres. Com satisfação, teriam-no flagrado numa ação proibida para que pudessem arrasta-lo para uma corte rabínica (...). [1].
Professor Flusser em seguida relaciona situações em que membros do partido fariseu agiram em benefícios dos cristãos.
"Se lembrarmos o papel que os fariseus desempenharam nas primeiras décadas da Igreja Cristã, fica mais claro o motivo pelo qual não só os relatos originais como também os três primeiros evangelhos, evitam mencionar os fariseus na história do julgamento de Jesus. Quando os apóstolos foram perseguidos pelo sumo-sacerdote saduceu, Rabban Gamaliel tomou o seu partido e os salvou (Atos 5: 17 - 42).
Quando Paulo foi levado a comparecer perante o Sinédrio em Jerusalém, encontrou solidariedade entre seus ouvintes ao apelar para os fariseus (Atos 22: 30 e 23: 10). Quando Tiago, o irmão do Senhor, e aparentemente outros cristãos, foram condenados ilegalmente a morte em 62 DC, pelo sumo-sacerdote saduceu, os fariseus apelaram ao rei e o sumo-sacerdote foi destituído" [1]
Bem como o Professor Geza Vermes, de Oxford
"Nos Atos dos Apóstolos, os líderes judeus de Jerusalém não são descritos como cegamente hostis aos seguidores de Jesus. Pedro atribuiu a ignorância ou falta de compreensão em vez de má-fé aos chefes dos sacerdotes (Atos 3: 17). O celebre fariseu rabi Gamaliel invocou a imparcialidade para com os apóstolos diante da alta corte (Atos 5: 34 - 39) e mesmo durante o conturbado encontro no Sinédrio a propósito de Paulo, acusado de pregar contra a lei, os membros fariseus do conselho o apoiam abertamente: "Nenhum mal encontramos nesse homem. E se lhe tivesse falado um espírito ou anjo (Atos 23: 9)
2) Os fariseus provocaram a morte de Jesus?
Possivelmente, alguns leitores tenham ficado "chocados" com o que foi dito acima.
"Como?! Isso é absurdo, os fariseus não eram inimigos mortais de Jesus e seus seguidores?!!!"
Um ponto primordial a ser enfatizado é que Jesus de Nazaré foi crucificado (uma punição romana), sob ordem de Pôncio Pilatos (que representava o poder de Roma), acusado de (pretender) ser "O Rei dos Judeus"(um crime contra Roma). Todos os evangelhos dizem isso claramente, sendo certo que isso jamais poderia ter sido inventado [3]. O papel das autoridades judaicas, sejam fariseus, saduceus, herodianas... foi de apresentar a denúncia, ou formular a acusação.
Utilizaremos aqui um esquema adaptado de Dr. Paul Winter [4], de seu clássico livro "Sobre o Processo de Jesus" ("On The Trial of Jesus"), sobre os interlocutores, adversários e oponentes de Jesus por passagem do evangelhos.
Por questão de espaço, vamos analisar detalhadamente apenas o Evangelho de Marcos, situando também dois evento marcantes do Ministério de Jesus, a purificação do Templo em Jerusalém e a Crucificação. As ocasiões em que os fariseus aparecem serão realçadas em vermelho.
Jesus e seus oponentes
Mc 2: 6: alguns dos escribas;
Mc 2. 16: escribas dos fariseus
Mc 2: 18: discípulos de João e os fariseus;
Mc 2: 23 - 24: fariseus;
Mc 3: 6: fariseus;
Mc 3: 22: escribas de Jerusalém
Mc 7: 1: Os fariseus e alguns escribas de Jerusalém
Mc 8: 11: Os fariseus
Mc: 8: 15: fariseus e Herodes
Mc 8: 31: Os anciãos, os Chefes dos Sacerdotes, e os escribas
Mc 9: 14: Escribas
Mc 10: 2: fariseus
Mc 10: 33: Os chefes dos sacerdotes e os escribas
Mc 11: 15: Jesus expulsa os cambistas do Templo
Mc 11: 18: Chefes dos Sacerdotes e escribas
Mc 11: 27: Chefes dos Sacerdotes, escribas e anciãos
Mc 12: 13: alguns dos fariseus e os herodianos
Mc 12: 18: Saduceus
Mc 12: 38: um dos escribas
Mc 14: Inicio da Narrativa da Paixão
Mc 14: 1: Chefes dos Sacerdotes, escribas e anciãos;
Mc 14: 10: Chefes dos Sacerdotes
Mc 14: 43: Uma multidão da parte do Chefes dos Sacerdotes, escribas e anciãos
Mc 14: 53: Chefes dos Sacerdotes, escribas e anciãos
Mc 14: 55: Chefes dos Sacerdotes
Mc 15: 1: Chefes dos Sacerdotes, escribas e anciãos e todo o Conselho
Mc 15: 3: Chefes dos Sacerdotes
Mc 15: 20 - 24: Jesus é crucificado
Mc 15: 31: Chefes dos Sacerdotes
Winter então observa:
"Duas questões saltam os olhos numa análise dessa Tabela. A primeira refere-se a diferença entre as designações dos inimigos de Jesus adotadas por Marcos nos capítulos 2 a 12, de um lado, e 14 e 15, de outro. Outra é a diferença entre as designações marquense e ao adotados nas passagens paralelas de evangelhos mais recentes. Relativamente a primeira questão, exceto por referências isoladas em Mc 11 (e é claro pela predição da paixão em Mc 8: 31 e Mc 10: 33) os chefes dos sacerdotes e os anciãos não são apontados como adversários de Jesus nos primeiros capítulos de Marcos, enquanto que em Marcos 14 e 15 somente eles e os escribas aparecem em tal posição" [4]
Considerando os pontos levantados por Winter, podemos observar que antes do episódio da purificação do Templo, os principais oponentes de Jesus são os fariseus. Contudo, se formos aos textos veremos que em grande parte são polêmicas a respeito de regras de pureza, como comer com publicanos e pecadores (Mc 2: 16), jejum (2:18), lavar as mãos (Mc 7: 1) e o divórcio (Mc 10: 2). Questões essas que também eram motivo de polêmica entre os fariseus.
Por exemplo, a possibilidade de divórcio dividia as duas grandes escolas farisáicas a de Hillel (a favor), e a de Shammai (contra). Embora alguns desses debates tenham sido ríspidos e acalorados, provavelmente não foram causadores da morte de Jesus.
Como observam o Professor Gerd Thiessen, Universidade de Heildelberg e Annete Merz, Universidade Utrecht "a maior proximidade existe, sem dúvida, entre Jesus e os fariseus. Sua crítica de Jesus mostram que eles o avaliam com critérios especiais - como se ele fosse um mestre próximo a eles. K. Berger (Jesus*) resume a oposição e a proximidade da seguinte forma: os fariseus representam uma noção defensiva de pureza. Desse modo, eles estão empenhados em evitar contaminação pela impureza. Jesus, ao contrário, defende uma noção ofensiva de pureza: não é a impureza, mas a pureza que contamina. Mas o motivo fundamental é o mesmo: ambos querem santificar o cotidiano a luz de Deus."
"A relação de Jesus com os fariseus é ambivalente: ao lado de uma grande afinidade nas convicções, encontramos um conflito básico; sinais de relações positivas estão ao lado de indícios de inimizade."[5]
Mas quando Jesus prevê sua morte, ele diz: "Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas; e eles o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios (Marcos 10: 33 e também Marcos 8:31). São as únicas menções aos principais sacerdotes antes do episódio da purificação do Templo (Mc 11: 15). É, interessante, em nenhum dos dois versículos, os fariseus são citados.
E após a expulsão dos vendilhões do Templo, os fariseus praticamente desaparecem da história (surgem apenas na questão do "dar a César o que é de César"), e partir do capítulo 14 eles somem de vez.
O impacto é ainda maior, se analisarmos as narrativas da paixão em Mateus e Lucas. Utilizando ainda o esquema elaborado por Paul Winter [6]
Narrativas da Paixão
Mateus : Chefes dos Sacerdotes e Anciãos (26: 3); Chefes dos Sacerdotes (26: 14) multidão da parte dos Chefes dos Sacerdotes (26: 47), escribas e anciãos (26: 57), Chefes dos Sacerdotes e todo o Conselho (26: 59) Chefes dos Sacerdotes e anciãos (27: 1, 27: 12, 27: 20), Chefes dos Sacerdotes, escribas e anciãos (27: 41), Chefes dos Sacerdotes e Fariseus (27: 62)
Lucas: Chefes dos Sacerdotes e escribas (22: 1), Chefes dos Sacerdotes e Capitães (22: 4), Multidão dirigida pelos Chefes dos Sacerdotes, capitães da guarda do templo e anciãos (22: 47 - 52), Chefes dos Sacerdotes e escribas (22: 66), Chefes dos Sacerdotes e multidão (23: 4), Chefes dos Sacerdotes, dirigentes e o povo (23: 13), dirigentes (23: 35).
Também em Lucas e Mateus, até no episódio do Templo, e da chegada de Jesus a Jerusalém, ou seja, na fase Galiléia do ministério de Jesus, os fariseus são rotineiramente mencionados como seus oponentes.Mas tanto em Lucas como em Mateus, após a expulsão dos vendedores do Templo, as menções aos fariseus se tornam rarefeitas. E quando atingimos as narrativas da prisão, interrogatório, julgamento, prisão e crucificação, os fariseus desaparecem. É o mesmo padrão observado em Marcos.
Nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) [6], embora as narrativas da paixão mencionem os oponentes de Jesus 28 vezes, os fariseus são citados uma única vez. Enquanto isso, antes da expulsão dos cambistas do Templo, Mateus, Marcos e Lucas referem-se a 37 disputas de Jesus com vários grupos do judaísmo, das quais 24 mencionam os fariseus. Dessas 13 vezes em que os fariseus não são citados, 5 se referem a passagem paralela em que Jesus diz aos seus discípulos que, em Jerusalém, os principais sacerdotes matariam o Filho do Homem.
Assim, a expulsão dos cambistas e vendilhões do Templo, representam um ponto de inflexão das narrativas evangélicas. Como observam Theissen & Merz [7], esse fato é revelador, pois os fariseus são os oponentes típicos de Jesus em toda a tradição sinótica, mas estão ausentes nas narrativas da paixão - não só em Marcos, mas em Mateus e Lucas -mesmo estando representados na elite judaica e no Sinédrio.
Pelo contrário, os sinóticos chegar "a dar testemunho de uma simpatia de certos fariseus para com Jesus". Esse fato pode ser explicado, ainda segundo Theissen & Merz, se os verdadeiros inimigos mortais de Jesus fossem os saduceus, que devem ter se sentido atingidos pelo ataque de Jesus ao Templo, a qual seus interesses estavam extremamente associados.
Depois do episódio do Templo, os inimigos passa a ser o grupo ligado aos Principais Sacerdotes, associados ao Templo de Jerusalém, a qual, provavelmente, eram Saduceus. São os principais sacerdotes que buscam um modo de mata-lo, prendendo-o a traição (Mc 11: 18; Mc 14: 1), dão dinheiro a Judas (Mc 14: 10), ajuntam uma multidão com espadas e varapaus para prender Jesus (Mc. 14: 43), levando-o ao Sumo Sacerdote (Mc. 14: 53) e a Pilatos (Mc. 15: 1). Ao atacar os vendilhões do Templo, Jesus desencadeou uma série de eventos que levariam a sua crucificação.
É verdade que no Evangelho de João, que é menos simpático aos fariseus que seus antecessores sinóticos, menciona o envolvimento dos fariseus, que junto com os Chefes dos Sacerdotes, convocam o Sinédrio e deliberam sobre Jesus (11: 47 e 57), e o prendem (18: 2 e 35). No entanto, ao relatar o interrogatório, julgamento, condenação e crucificação (19: 6, 19: 15, 19: 21), João menciona apenas os Chefes dos Sacerdotes, juntando-se a companhia dos evangelhos sinóticos. Mais ainda, em João 9: 15 - 16 os fariseus discutem entre si sobre Jesus, "e havia dissensão no meio deles" . Ou seja, também em João, a iniciativa do processo que leva a execução de Jesus é do grupo dos "Chefes dos Sacerdotes", ainda que o durante seu ministério seus oponentes mais recorrentes tivessem sido os fariseus.
Professor David Flusser observa:
"As palavras e as ações de Jesus em Jerusalém, precipitaram a catrastrofe. O sacerdócio saduceu, desprezado por todos, encontrou seu único apoio no Templo. Este profeta da Galiléia, diante da multidão reunida para a festa, havia não só previsto a destruição do Santuário, como o término da casta sacerdotal. Ademais explorando os sentimentos amargos sobre o comércio que ali tinha lugar, desferiu um golpe doloroso contra as autoridades. As mesmas, trinta anos mais tarde, entregarão aos romanos Josué, filho de Ananias, por também profetizar a ruína do Templo. Os romanos protegiam com diligência todos os santuários religiosos do Império. Assumiam igualmente a tarefa de proteger os sumos sacerdotes de agotadores oportunos."[8]
As principais figuras envolvidas na crucificação de Jesus, Anás e Caifas, eram, provavelmente, membros do partido saduceu. Os saduceus controlavam não só o sumo-sacerdócio e o templo, mas também o Sinédrio. Em Atos 4, os sacerdotes e os capitães do templo prendem Pedro e João, "doendo-se muito que eles ensinassem o povo e anunciassem em Jesus a ressurreição dentre os mortos" (verso 2), sob ordem dos saduceus (que não criam em ressurreição). Em Atos 5: 17, lemos que "Levantando-se o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele (isto é, a seita dos saduceus), encheram-se de inveja, deitaram mão nos apóstolos, e os puseram na prisão pública."
Analisando os Evangelhos e Atos dos Apóstolos junto com as evidências de outras fontes, a exclusão dos fariseus não é mera coincidência. Se estes chegaram a sua redação final entre 70 e 110 DC, quando a Igreja já era majoritariamente gentia, o Templo e sua elite dirigente já não mais existiam, e o cristianismo já estava se transformando em uma religião distinta, não haveria motivo para os evangelistas pouparem os fariseus. Seria muito fácil para Marcos, Lucas, Mateus e João descreverem os fariseus como buscando a execução de Jesus, enfatizando sua participação, afinal, como eles mesmos nos dizem, os fariseus são os oponentes e adversários recorrentes de Cristo em seu ministério na Galiléia.
A explicação mais provável, portanto, é que as fontes e relatos mais antigos, a qual estes evangelhos foram baseados, descreviam os Chefes dos Sacerdotes, ligados ao Templo e aos Saduceus, como os responsáveis pela denúncia e entrega de Jesus a Pôncio Pilatos. Isto faz sentido, porque cabia aos Chefes dos Sacerdotes, como a elite dominante dos países ocupados por Roma, colaborar com seus oficiais, identificando possíveis ameaças a ordem estabelecida e a pax romana".
Bibliografia e Referências:
[1] David Flusser (1998), Jesus, fls. 48-49.
[2] Geza Vermes (2003), Geza Vermes, A Paixão, fl.114.
[3] Os evangelhos foram escritos, provavelmente, entre a 1ª Guerra Judaica (66-73 DC) e 2ª Guerra Judaica (132-135 DC).
No primeiro século DC e início do secundo, houveram inúmeras revoltas, provocadas por auto-proclamados "Reis dos Judeus" e "Messias", que causaram a morte de (dezenas de) milhares de pessoas, dentre os quais milhares de bons soldados e cidadãos de Roma. No mesmo período, a igreja era perseguida e o cristianismo era uma seita ilegal, sendo que alguns oficiais e magistrados suspeitavam que o grupo era formado por agitadores, desleais a Cesar e a Roma.
De fato, Aristides, Quadrato, Justino Martir, Melito, Apolinario, e outros, escreveram ao Imperador da época buscando incessantemente provar que os cristãos eram leais, pacíficos e produtivos e perfeitos súditos do Império. Porque, nessas circunstâncias, os cristãos inventariam que seu líder tinha sido um Messias Crucificado, executado como um criminoso político, por magistrados romanos, sob a acusação de Alta Traição? Certamente porque Jesus foi realmente crucificado, por ter sido acusado (justa ou injusta) de se auto-proclamar "Rei dos Judeus, e essas coisas eram fatos bem conhecidos (e problemáticos) que os cristãos tinham que explicar.
[4] Paul Winter, Sobre o Processo de Jesus, fl. 236-240
[5] Gerd Thiessen e Annete Merz (1996), O Jesus Histórico; Um Manual, fl. 162 e 252
[6] Paul Winter (1961), Sobre o Processo de Jesus, fl. 122
[7] Gerd Thiessen e Annete Merz(1996), O Jesus Histórico; Um Manual, fl. 254
[8] David Flusser (1998), Jesus, fl. 113
http://adcummulus.blogspot.com.br/2009/07/jesus-e-os-fariseus-inimigos-mortais.html
Imagens: 1 https://www.churchofjesuschrist.org/bible-videos/videos/christs-authority-is-questioned?lang=deu&clang=eng
Imagens: 3 https://www.cima-asso.it/2009/03/ecce-homo-il-processo-a-cristo/