O Novo Evangelicalismo


O Novo Evangelicalismo

Thomas Ice

Paul Smith, irmão do pastor Chuck Smith, da conhecida igreja Calvary Chapel [Capela do Calvário], escreveu um novo e importante livro: New Evangelicalism: The New World Order (Novo Evangelicalismo: A Nova Ordem Mundial). [1] Nesse livro, Smith identifica os ardis que ameaçam destruir a eficiência da crença na Bíblia, na pregação do Evangelho, nas igrejas que ensinam a Bíblia, como aquelas do próprio grupo da Calvary Chapel. O livro traça as raízes dos perigos dos últimos duzentos anos que estão à espreita no horizonte e ameaçam as igrejas bíblicas nos dias atuais, demonstrando como tantos evangélicos já tomaram de seu veneno.

Smith não expõe apenas o problema, que é o abandono da inerrância das Escrituras, mas mostra também qual é a solução e como ela pode reavivar nossas igrejas evangélicas.

Origens do Problema

Peter Drucker, o guru da administração, é identificado como o personagem-chave que influenciou o surgimento do movimento do crescimento de igrejas no Seminário Fuller, que levou a tantas influências contrárias ao Evangelho dentro do evangelicalismo. Smith demonstra historicamente que a filosofia existencial de Soren Kierkegaard influenciou Drucker, levando-o à sua teoria pragmática e abordagem comunitária e ao papel da igreja em sua comunidade ideal. Karl Barth, o famoso teólogo suíço neo-ortodoxo, também sorveu profundamente das idéias de Kierkegaard, e, por sua vez, cativou Daniel Fuller, o filho de Charles Fuller, que fundou o Seminário Fuller em 1947.

Embora o Seminário Fuller, em Pasadena, no estado da Califórnia, Estados Unidos, tenha começado bem, lá pelos anos 1960 tinha abandonado a inerrância e começado sua descida pela ladeira escorregadia rumo ao liberalismo moderno. Smith observa que Harold Lindsell, antigo membro do corpo docente do Fuller, documentou o abandono da inerrância em seu famoso livro The Battle for the Bible (A Batalha Pela Bíblia), em 1976.[2] Smith fornece detalhes muito mais abrangentes dos acontecimentos de bastidores nos âmbitos filosófico e histórico, que levaram à rápida queda teológica do Seminário Fuller. Eles estabelecem o cenário para os motivos porque aquela escola tem estado no epicentro de muitas das influências que contaminaram o evangelicalismo nas últimas três décadas.

Peter Drucker, o guru da administração, é identificado como o personagem-chave que influenciou o surgimento do movimento do crescimento de igrejas no Seminário Fuller, que levou a tantas influências contrárias ao Evangelho dentro do evangelicalismo.

No cerne do livro de Smith está sua crença, com a qual concordo, na noção de que o rebaixamento bíblico, ou seja, a apostasia, começa com um afastamento da crença na doutrina da inerrância [da Bíblia]. Isso geralmente acontece dentro das instituições acadêmicas, que supostamente existem para treinar a próxima geração de líderes que darão apoio à igreja. Em vez disso, essas instituições destroem a confiança na Palavra de Deus, que a próxima geração de líderes necessitará para nutrir e fazer expandir a igreja.

O livro tem um excelente capítulo denominado “How Historical Drift Happens” [Como Acontece a Deriva Histórica]. Nesse capítulo, Smith explica como a maneira de pensar do mundo passa a dominar a igreja. Basicamente, isso começa com a negação da inerrância, o que significa que há uma perda de confiança na Palavra de Deus como a autoridade máxima para o homem. Assim, uma dada igreja fica aberta aos pensamentos dos homens como se estes tivessem a mesma autoridade da Bíblia. O próximo passo é trazer coisas como a sociologia, o marketing e a psicologia para dentro da igreja para fornecer uma base à filosofia de ministério, que é o que tem sido feito pelo Movimento de Crescimento da Igreja.

Um testemunho surpreendente sobre o declínio do Fuller é fornecido por Smith – o relato do então aluno Wayne Grudem, em 1971, que hoje é um conhecido teólogo evangélico:

Enquanto eu ainda estava fazendo curso de graduação na Universidade Harvard, ouvi advertências de que o Seminário Fuller estava comprometendo seriamente a verdade da Palavra de Deus. Embora essas advertências viessem de fontes respeitáveis como Francis Schaeffer, John Montgomery e da Christianity Today [Cristianismo Hoje], não acreditei nelas. Agora acredito!

Nenhum dos meus cursos [no Fuller] reforçou minha confiança na Bíblia. Ainda mais desoladora é a estreiteza mental: não tive nenhum professor que ensinasse a inerrância bíblica, nem mesmo como uma opção possível. Os alunos com quem converso não possuem nenhum conhecimento das grandiosas defesas da inerrância feitas recentemente por homens como E. J. Young, Ned Stonehouse, e Cornelius Van Til.

Estou preocupado com o Seminário Fuller, mas não tenho nenhuma proposta de solução. As cartas estão todas lançadas na direção de maiores concessões e comprometimentos. Os docentes parecem pensar que detêm a única solução possível; os que pensavam de forma diferente foram embora da escola. Mas, quanto a mim, quero um seminário que faça de mim um ministro da Palavra de Deus, não um crítico. Não tenho escolha, senão ir embora.[3]

O Movimento de Crescimento da Igreja

Nos anos 1960, Daniel Fuller, filho do fundador, voltou da Suíça onde havia estudado na Universidade de Basiléia e onde aderira à teologia liberal de Karl Barth. Fuller trouxe aquela mentalidade para o Seminário de seu pai, o que apressou o declínio da instituição. A data na qual o Seminário Fuller abandonou oficialmente a inerrância é identificada como dezembro de 1962.[4] A degradação do Seminário Fuller e seu baixo conceito sobre a Bíblia foram fatores que levaram seus líderes a fundarem a Escola de Crescimento da Igreja, que empregava princípios pragmáticos e freqüentemente humanistas.

Em 1971, C. Peter Wagner tornou-se professor de Crescimento da Igreja no Fuller. A ênfase nas ciências sociais, não na Bíblia, era o enfoque de Wagner e de outros influenciados pela “ciência” do crescimento da igreja. “A maneira de muitos pastores fazerem suas igrejas crescer foi o uso de programas sociais”,[5] observa Smith. Wagner associou-se a John Wimber para ministrar as aulas de Sinais e Maravilhas místicos, que se tornaram muito populares entre os alunos do Fuller. Rick Warren, da Igreja Saddleback, em Orange County, Califórnia, obteve seu grau de Doutor em Ministérios na Escola do Crescimento da Igreja e foi profundamente influenciado por seu pensamento. Combinado com [as idéias de] seu mentor, o sociólogo incrédulo Peter Drucker, e as últimas do Fuller, Warren foi adiante e se tornou o pastor mais influente da América.

Um Casamento Profano

A partir do Movimento de Crescimento da Igreja dos últimos quarenta anos, surgiu o próximo empurrão pela ladeira escorregadia, para longe da ortodoxia, chamado Movimento das Igrejas Emergentes.

“Rick Warren atribui o espetacular crescimento numérico de sua Igreja Saddleback a seu modelo Com Propósitos, uma estratégia organizacional e de marketing inspirada principalmente em Peter Drucker”,[6] diz Smith. O modelo de Warren para crescimento da igreja é baseado na visão de Drucker sobre a construção de uma comunidade social e não tem nada a ver com o Evangelho. Embora Warren use a Bíblia, sua filosofia de ministério não é retirada da Bíblia, mas derivada de teorias sociais humanísticas, como ele mesmo admite. Isso explica por que Warren está engajado em um esforço global para promover o socialismo em vez de um esforço global para pregar o Evangelho.

A partir do Movimento de Crescimento da Igreja dos últimos quarenta anos, surgiu o próximo empurrão pela ladeira escorregadia, para longe da ortodoxia, chamado Movimento das Igrejas Emergentes.

Warren e outros apoiaram esse movimento. No entanto, Paul Smith observa que seu irmão rejeita totalmente o movimento e já divulgou um manifesto da Calvary Chapel contra essa ameaça ao cristianismo bíblico. Chuck Smith é um crítico do Movimento Emergente e lista algumas de suas objeções:

(1) Que Jesus não é o único caminho através do qual os homens são salvos (...); (2) O pouco caso dado ao inferno (...); (3) Temos dificuldade com a maneira cheia de sentimentalismos com que eles se relacionam com Deus (...); (4) Temos problemas com o uso de ícones para dar-lhes um sentido de Deus ou da presença de Deus (...); (5) Não acreditamos que se deva buscar fazer com que os pecadores se sintam seguros e confortáveis na igreja (...); (6) Será que deveríamos tolerar o que Deus condenou, como, por exemplo, o estilo de vida homossexual? (...); (7) Será que deveríamos buscar nas religiões orientais suas práticas de meditação através da yoga? (...); (8) Eles desafiam a autoridade final das Escrituras (...).

O pastor Chuck termina sua carta com o seguinte comentário: “Há os que dizem que o Movimento Emergente tem alguns pontos positivos, mas o porco-espinho também os tem. É melhor não chegar muito perto!”.[7]

Conclusão

Paul Smith acredita que a ladeira escorregadia na qual tantos evangélicos se encontram está estabelecendo o palco para o globalismo e a Nova Ordem Mundial, que introduzirá o Anticristo logo que a Igreja verdadeira tiver deixado o planeta Terra por meio do Arrebatamento. Não há nenhuma dúvida em minha mente de que Smith está coberto de razão. A forma final da apostasia dentro da igreja falsa será alguma forma de misticismo, que é exatamente para onde a igreja evangélica está rumando firmemente. Tudo parece estar caminhando em direção ao globalismo – nos âmbitos social, econômico, político e religioso.

Smith observa que até mesmo Rick Warren promove um plano global, denominado PEACE [PAZ]. O plano é: Promover a Reconciliação; Equipar Líderes Servos; Dar Assistência aos Pobres; Cuidar dos Enfermos; e Educar a Próxima Geração.[8] Há dois verbos que começam com a letra E no plano PEACE de Warren, mas nenhum deles significa “evangelizar” porque o Evangelho está totalmente fora desse plano.

Em seu livro, Smith não apenas ataca as trevas; em todo o seu texto ele diz aos crentes o que devemos crer e fazer em contraste com o Novo Evangelicalismo. Smith observa como o movimento do qual ele fez parte por mais de quarenta anos – as igrejas da Calvary Chapel – foi edificado, não nos princípios do crescimento da igreja nem no planejamento de homens, mas com base na simples pregação e no ensino da Palavra de Deus e de Seu Evangelho, confiando no Espírito Santo para imprimir aquela Palavra ao coração dos homens, fossem eles crentes ou incrédulos. Quando a Palavra de Deus é proclamada, afirma Smith, o Senhor edifica Sua Igreja.

Francamente, o impacto global do movimento da Calvary Chapel pela causa de Cristo (com milhares de igrejas implantadas em todo o mundo) é provavelmente maior que qualquer outra denominação ou movimento de que eu tenha notícia. Este não foi o produto de planejamento humano, mas o resultado da pregação da Palavra inerrante de Deus, confiando que o Espírito Santo abre o coração das pessoas. Maranata! (Thomas Ice - Pre-Trib Perspectives - http://www.chamada.com.br)

Notas:

  1. Paul Smith, New Evangelicalism: The New World Order [Novo Evangelicalismo: A Nova Ordem Mundial] (Costa Mesa, CA: Calvary, Chapel Publishing, 2011), 215 páginas.
  2. Harold Lindsell, The Battle for the Bible [A Batalha Pela Bíblia] (Grand Rapids: Zondervan, 1976). O livro seguinte de Lindsell, que deu continuidade a esse, foi The Bible in the Balance [A Bíblia no Equilíbrio] (Grand Rapids: Zondervan, 1979).
  3. Wayne Grudem, citado em Billy Graham Center Archives [Centro de Arquivos de Billy Graham], Wheaton, IL. Harold Lindsell Collection 192, Folder 6-20ss, Item 3, em Smith,New Evangelicalism, p. 74.
  4. Smith, New Evangelicalism, p. 95.
  5. Smith, New Evangelicalism, p. 108.
  6. Smith, New Evangelicalism, p. 126.
  7. Smith, New Evangelicalism, pp. 140–41.
  8. Smith, New Evangelicalism, p. 166–67.

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