A Verdade sobre a Espionagem Americana

 

A Verdade sobre a Espionagem Americana e a

 Segurança Brasileira

Em um balanço geral, desde as declarações iniciais do ex espião americano Edward Snowden, até o pronunciamento da Presidente Dilma Rousseff na ONU, a questão da espionagem americana no mundo, e no caso brasileiro em especial, nos trouxe algumas verdades mais do que profundas, mas que o governo de uma forma geral, tenta (utilizando uma técnica da própria espionagem) desinformar a sociedade. O sistema de Defesa brasileiro precisa ter uma visão mais estratégica, ou melhor, um maior cuidado sobre o tema por parte do governo, e até mesmo do Congresso Nacional e do Senado Federal.

É mais do que sabido, que a atuação dos serviços de inteligência dos Estados Unidos em território brasileiro, já vem de longa data. Já no próprio governo de FHC, o caso ganhou força em 1999, principalmente no tema narcotráfico e cooperação com a Polícia Federal brasileira. Considerando as particularidades geopolíticas do Brasil, e suas condicionantes de Política Externa, é mais do que óbvio que os Estados Unidos teriam algumas particularidades de coleta de inteligência sobre nosso país, mas o preocupante é saber que o nosso governo, de forma histórica, não desenvolveu as atividades de inteligência no mesmo nível, e sem contar o sistema de segurança e defesa de nossas tecnologias da informação, considerando também, um grande serviço de Contra-Espionagem Nacional, sendo que o mesmo já tem dotação orçamentaria anual. Será que a Controladoria da União não verifica a eficiência dos recursos empregados?

A Presidente Dilma Rousseff falou firme na abertura da Assembléia Geral da ONU na semana passada, mas sua fala na prática parece demonstrar “folhas ao vento”, pois na mesma semana o Ministério da Defesa expunha dados sobre cortes na dotação de orçamento para o Centro de Defesa e Guerra Cibernética do Exército Brasileiro, o mesmo que semanas antes afirmava através de seu comandante, que carecia de uma série de pontos estratégicos, incluindo orçamento, pessoal e até mesmo tecnologia. Aí me pergunto, será que a defesa, espionagem, inteligência e contra-espionagem são temas relevantes na Política Estratégica do Governo Federal? Lembro uma vez que participei de um grande encontro de estudos estratégicos em Buenos Aires, Argentina, na Escuela de Defensa Nacional, e conversando com um deputado federal que participava do encontro o mesmo me afirmava, “Fábio, Defesa não dá voto”. Esta lógica perversa, na verdade só abre precedentes para que grandes potências façam o que bem entender. Mas com o Brasil tem alguns fatores importantes para atuação da inteligência internacional: Pré Sal, Amazônia Verde e Azul, Nióbio, Água Potável, Riqueza Mineral, Biologia favorável para o desenvolvimento farmacêutico, população cosmopolita e economicamente ativa, recursos alimentares, e outros fatores que na verdade só dão cenários positivos para as potências olharem o Brasil com “olhos de lince”. Mas a ideologia, a falta de planejamento e pragmatismo, e a própria definição de alinhamento diplomático do Brasil podem atrasar todo o processo, e deixar o país a mercê de qualquer ação, amiga ou inimiga. Como diria Dawisson Belém Lopes, em artigo no Jornal O Estado de São Paulo na data de hoje (29/09/2013), com o título “Declínio do Império Anti-Americano”, “o alinhamento diplomático do Brasil aos Estados Unidos não deve ser ideologia perene, mas escolha pragmática”, o problema é que essa escolha pode levar o Brasil a um fundo de poço sem precedentes, considerando peso estratégico das relações Brasil – Estados Unidos. No jogo de xadrez mundial, o Brasil insiste em ir para um final de peões, mas sempre com movimentos antagônicos em relação às suas necessidades. Por quê será que os americanos, de fato, saíram do leilão do Pré Sal? Por quê o Brasil não efetiva seu assento definitivo no Conselho de Segurança da ONU? E só um aparte, é fácil gritar e não decidir o posicionamento diplomático com os Estados Unidos. Prorrogar a ida ao encontro com Barack Obama, e na semana seguinte pedir apoio em Nova York é um mínimo curioso. Não consigo ver efetividade e estratégia nisso.

O governo brasileiro questiona privacidade nas relações com o governo americano, mas ao mesmo tempo não analisa o contexto realista do mundo, o próprio avanço da internet nas relações sociais, e ainda apresenta um Marco Regulatório, que na verdade pode transferir ao governo um ambiente maior de controle das informações da própria sociedade brasileira. Será que o governo não entendeu, que o contexto da internet e seu desenvolvimento se dá em função da própria liberdade de dados? Como afirma o Diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas, Ronaldo Lemos, um dos idealizadores do Marco Civil da Internet, “isso fará com que as empresas fujam do Brasil e os brasileiros se tornem cidadãos de segunda classe nos serviços americanos ou europeus”, considerando a implantação obrigatória de data centers no país por parte de empresas como Facebook e Google. Nesse ponto precisamos entender uma questão estratégica, os brasileiros são suas próprias e maiores ameaças, até porquê os mesmos adoram as redes sociais, expõem suas vidas de forma escancaradas, adoram o tema espionagem (todo brasileiro é um James Bond com seus celulares, canetas e até mesmo “drones”), e como questionar os dados de Snowden sobre o cruzamento de dados para determinar um perfil? Imagina o que as companhias de cartões de créditos, bancos e empresas de marketing de relacionamento já fazem há anos?

O Blog EXAME Brasil no Mundo conversou com um dos maiores especialistas em segurança privada do mundo, o Brasileiro Igor Pipolo, que hoje dirige uma companhia de segurança nos Estados Unidos. O Blog EXAME conversou com Pipolo para entender suas percepções acerca das questões, e como o mesmo vê, por parte dos americanos os reflexos deste posicionamentos do governo brasileiro em relação à espionagem americana.

Igor Pipolo

Igor Pipolo

Brasil no Mundo: Considerando sua grande experiência na área de segurança, e com atuação nos Estados Unidos, qual a sua opinião sobre a posição da Presidente Dilma Rousseff no discurso de abertura da Assembléia Geral da ONU, sobre o caso de Espionagem Americana no Brasil?

Igor Pipolo: A Dilma cometeu um grande erro estratégico. Baseada em documentos de “espionagem” fracos e sensacionalistas, capaz de serem derrubados por qualquer analista de inteligência sério, a Dilma “botou a boca no trombone” com interesse político para chamar a atenção da mídia e desviar o foco de fatos muito mais sérios que estão ocorrendo internamente no Brasil. Dois pontos podemos destacar do discurso que não passa de mera falácia: o primeiro foi quando ela disse: ” . . . repudia, combate e não dá abrigo a grupos terroristas . . . “. De que adianta falar isso se efetivamente não temos um sistema de proteção em nossas fronteiras (entra-se no Brasil por vários pontos e maneiras) e adequado controle de estrangeiros em pontos estratégicos como a famosa tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina) reconhecida internacionalmente como área de refúgio de terroristas? A outra coisa foi quando citou que o Brasil sabia se proteger: Piada! não temos Defesa nem Segurança a altura do status econômico que estamos ocupando no mundo. Há meses estamos tentando conquistar e manter espaços dentro de grandes cidades, como é o caso do Rio de Janeiro com a ocupação de favelas (apenas 12 entre quase 600 favelas).

Brasil no Mundo: Na sua visão, qual a opinião dos americanos sobre o discurso de Dilma Rousseff e sobre o adiamento de sua visita oficial à Barack Obama?

Igor Pipolo: Os Americanos trabalham muito bem essas questões diplomáticas (surtos de presidentes deslumbrados) e possuem uma infinidade de mecanismos de inteligência para contorna-los. Para os Americanos a questão de proteção de seu país é muito maior que qualquer outra coisas e eles acreditam fortemente em seus princípios, e, certamente farão de tudo para leva-los a cabo. A Dilma já disse o que queria em seu discurso: “Uma Resposta” e eles irão prepará-la. Se vai ser aceita ou não e o que virá depois, nem a Dilma sabe.

Reflexão: Com um passado como o da Presidente Dilma, escândalos de corrupção para todo lado, economia crescendo, empresas americanas se estabelecendo no país, etc. Será que os Estados Unidos tem motivo para querer saber o que anda acontecendo por aqui? Bem que eu gostaria que a NSA investigasse a fundo os Bilhões que são desviados e as obras públicas mal administradas no Brasil !

Brasil no Mundo: Qual a sua percepção sobre a Atividade de Inteligência das grandes economias mundiais, inclusive o Brasil?

Igor Pipolo: Isso é absolutamente NORMAL. Toda nação que pensa em crescer e se perpetuar deve ter um sistema de inteligência muito bom e buscar o máximo de informação do seu aliado ou concorrente. A questão é não obter informações por meios ilícitos! Cerca de 95% das informações sobre qualquer coisa/pessoa pode ser encontrada em registros e/ou fontes abertas.

Foi preciso uma denuncia de um ex-funcionário do governo americano para descobrirmos o óbvio? Admitir a surpresa sobre esta ação de inteligência, na verdade é o maior registro de que não temos o controle de nossas informações estratégicas do pais. Na minha terra tem um ditado que se aplica muito bem ao caso: “Prendam suas cabritas, que meus cabritos estão soltos”!

“O conhecimento e a informação são os recursos estratégicos para o desenvolvimento de qualquer país. Os portadores desses recursos são pessoas” como diria Peter Drucker.

Brasil no Mundo: Na sua experiência em segurança no Brasil, como você avalia o Sistema Brasileiro de Inteligência?

Igor Pipolo: Lamentável! Estamos atrasados e sem recursos para desenvolver a INTELIGÊNCIA que deveríamos ter, como 7ª economia do mundo. Nossas agencias de inteligência foram praticamente desmontadas e isso se deu ao fator político (partido dominante a mais de 14 anos) e suas origens militares. As Agências de Inteligência nos dias atuais contemplam muito mais que a visão militar, englobam questões macro econômicas complexas, capazes de fazer um país crescer ou quebrar.

Temos que para de aceitar as notícias enlatadas, achar que tá tudo certo e que aquela opnião de um canal de comunicação x ou y é a Verdade Absoluta. Em qualquer nível podemos encontrar os mecanismos de inteligência funcionando: Na escola o aluno que saber como é o professor, o rapaz quando quer namorar uma moça, no trabalho as pessoas buscam informação sobre o chefe ou colegas, os políticos fazem isso o tempo todo para conseguir seus interesses nos projetos, as empresas quando estão numa concorrência, etc. Desde que as informação tenham sido obtidas de forma legal, não há nada errado nisso.

Brasil no Mundo: Considerando as grandes riquezas naturais que existem no Brasil, e mais as grandes ameaças internacionais, será que o Brasil está preparado sob uma ótica de defesa e segurança?

Igor Pipolo: As forças militares brasileiras estão sucateadas, se arrastando para manter-se (dentro dos quartéis), mas por disciplina não podem fazer nada e ficam a mingua dos interesses políticos.

Os números da insegurança no Brasil são evidências de que o Pais não aprendeu a tratar o tema e insiste em fazê-lo da mesma forma a décadas. Nossa frota de navios e aviões são antigos e muito menor do que o nível mínimo que precisamos para garantir a nossa soberania. Por sorte e até um dia, somos um grande pais na América do Sul e sem inimigos declarados. Cabe ressaltar que nossa insegurança tem forte base no sistema judiciário lento e na falta de educação para o nosso povo! A Educação é a mãe da Segurança.

Brasil no Mundo: A revista inglesa, The Economist nesta semana apresenta em sua matéria de capa, uma chamada bem agressiva ao Brasil. Na visão da revista, o país perdeu sua grande chance, ou literalmente destruiu sua grande oportunidade. Qual a sua visão? E como os americanos estão vendo isso?

Igor Pipolo: Por aqui nos Estados Unidos,  já se fala em um cenário de crise para o Brasil a partir de 2016. Os países que entraram em crise após 2005 impuseram lições internas amargas, e começam a apontar o re-aquecimento de suas economias.
Esta semana tive uma triste constatação durante uma das maiores feiras de segurança dos Estados Unidos, que ocorreu em Chicago. Falei pessoalmente com várias empresas que tem interesse de fazer negócios com o Brasil, mas a alta carga tributária, falta de infraestrutura, corrupção e insegurança jurídica são os itens que mais preocupam e impedem os empresários americanos fazer negócios com o Brasil (Custo Brasil).

IGOR DE MESQUITA PIPOLO, ADS, ASE
CEO da Nucleo Inteligência e da Nucleo, Inc (Estados Unidos) e Diretor da SEKURA (Estados Unidos).  Professor convidado da Universidad Pontificia Comillas de Madrid/Espanha. Sócio-fundador e Ex-Presidente da ABSEG – Associação Brasileira dos Profissionais de Segurança, Ex-Presidente da ASIS – American Society for Industrial Security – Chapter Brasil.

http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/brasil-no-mundo/2013/09/29/a-verdade-da-espionagem-americana-e-a-seguranca-brasileira/

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